sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mural - Roberto Moreno

Hoje Roberto Moreno completa 52 anos. Mais do que um mero piloto, Moreno traz em sua história as marcas de uma carreira com dificuldades mas cheia de superações e persistência.


Nascido no Rio de Janeiro em 11 de fevereiro de 1959, mudou-se para Brasília aos 14 anos. Seu interesse pela mecânica começou nas bicicletas, e só cresceu ao ganhar uma motocicleta de seu pai. Moreno, atraído pela curiosidade, passou a visitar com frequência a Camber (oficina de propriedade de Alex Dias Ribeiro, da qual Nelson Piquet era mecânico).
Moreno começou no automobilismo através do kart, sendo campeão brasiliense da modalidade em 1975. No ano seguinte, sagrou-se campeão nacional na categoria 125cc. Alguns meses depois do título, Moreno sofreu um grave acidente de motocicleta, que interrompeu a carreira em crescimento por dois anos.

Em 1979, Moreno decide seguir os passos de seu amigo Nelson Piquet, que já competia fora do país desde 1977, e vai para a Inglaterra correr de F-Ford. Mesmo com a grana curta, Moreno compra um chassi, e faz algumas corridas esporádicas. No final do ano, duas vitórias e a 6ª posição no campeonato. Moreno ainda faz uma prova na F-Ford 2000, termina na segunda colocação, e ainda quebra o recorde do circuito de Mallory Park. Moreno foi considerado a revelação do ano.

Para o ano seguinte, Moreno continuou na categoria e foi contratado pela equipe de fábrica da Van Diemen. A temporada rendeu bons frutos. Campeão da F-Ford 1600 BRSCC, vice-campeão do campeonato europeu (sendo que Moreno perdeu uma etapa, por coincidir com o calendário britânico) e o 1º lugar no festival mundial da categoria.

Para 1981, um contrato de piloto de testes da Lotus é assinado, porém Moreno não realiza muitos testes. A partir desse ano, o 'SuperSub' (Moreno ganhou esse apelido nos EUA após ser constantemente convidado para participar de corridas em substituição de algum outro piloto) entra em ação. Um piloto havia sofrido um acidente, e Moreno foi convidado pela equipe Barron para fazer um teste "[...] me chamaram para fazer um teste, me adoraram, e demos sequência [...]". Moreno fez um bom ano pela Barron, obtendo 2 vitórias e 2 pódios e 10 pontos no fim do campeonato.

Moreno e De Angelis em Zandvoort
Créditos: Rianov Albinov
Chegamos a 1982, e com ele, uma oportunidade de ouro para Moreno. Nigel Mansell havia quebrado a mão e não poderia participar do GP da Holanda daquele ano. "SuperSub" entra em ação, mas não corresponde às espectativas. O motivo? Deixemos o próprio explicar: "[...] E quando chegou o teste antes da corrida, não me deixaram testar porque o Mansell queria tentar andar. Com isso eu não andei no carro. E fomos para Zandvoort num carro-asa, em que a curvona antes da reta você fazia de pé no fundo, e tudo de que você precisava era ser forte para segurar o volante. E eu não tinha esse hábito. Só aprendi isso em 1984 quando andei de carro-asa de F-2, aí eu aprendi como se fazia. Então foi muito em cima, eu não me classifiquei [...]." . Nas demais partes da pista, seu tempo era muito próximo ao tempo conseguido por Elio de Angelis. 


O fato de não ter conseguido se classificar para a corrida deixou o filme de Moreno 'queimado' no paddock da F1 durante um bom tempo. Mas outras oportunidades surgiram para ele. O GP de Macau, do qual Moreno foi o vencedor, foi uma delas. Em 1983, resolve tentar a sorte na América. Passa pela F-Atlantic e pela Indy, sem deixar de fazer algumas corridas pela F2. Porém, a obstinação pela F1 o faz trocar uma carreira em ascensão plena por um futuro incerto na F3000 em 1987.

Durante o ano, Moreno recebe uma proposta vinda da AGS, que precisava de alguém que conseguisse acertar aquele saco de bombons (como diria o Zenas). Moreno aceita o desafio e, em um teste em Paul Ricard, a uma semana do GP da Espanha, o avanço no entendimento do carro era imenso. "[...] No fim, eu melhorei quase quatro segundos com aquele carro, só em amortecedor, mola e sistema de usar a borracha, eu [...] consegui direcionar a equipe porque eles não sabiam direito como funcionava. E ficaram muito impressionados [...]". A temporada de F3000 segue normalmente e Moreno mostra que a aposta valeu a pena, ficando com o 3º lugar na classificação final.

A AGS gostou tanto dos serviços do "SuperSub", que o ele entrou em ação novamente. Substituindo Pascal Fabre, Moreno vai para Suzuka participar do primeiro GP do Japão naquela pista. Aproveitando-se do fato de já ter corrido na pista em 1985, coloca a AGS no 14º posto da tabela no fim do primeiro treino livre. Espanto geral no paddock. 'Como era possível uma AGS não estar no final da lista?' Mas na classificação tudo volta ao normal e Moreno fecha o grid com a 26ª e última posição. Uma pane elétrica acabou com a sua corrida no 38 º giro.

Para o GP da Austrália o roteiro era praticamente o mesmo: Largar do fundão e esperar pra ver até onde o carro aguentaria. Mas, surpreendendo todos novamente. Mais uma vez, com a palavra, Moreno:

"[...] larguei em penúltimo e terminei em sétimo. O (Ayrton) Senna foi desclassificado com a Lotus, e eu terminei em sexto fazendo um ponto para a AGS, que deu a eles a vantagem de todos os custos de viagem deles serem pagos pela Foca [...]."


Para 1988, Moreno teria um carro para competir. A AGS tinha um acordo com o piloto. Seria a primeira vez em muitos anos que isso iria acontecer. Seria, porque a equipe não consegue juntar os patrocínios suficientes para bancar a caga de Moreno. Como boa parte desses patrocinadores eram franceses, a pressão por um piloto francês em uma equipe francesa era muito grande. E Philippe Streiff ficou com sua vaga. Isso foi em fevereiro. Todas as principais equipes da F3000 já tinham seus pilotos definidos. Mas no fim das contas, Moreno conseguiu se firmar em uma equipe. Com uma condição: que ele arranjasse chassi e motor de graça.


A carreira poderia ter acabado ali, mas ele conseguiu. Dormiu em frente a fábrica da Reynard, convenceu o chefe de vendas, e obteve o chassi. Para conseguir o motor foi mais simples. Em suas várias corridas pelo mundo, Moreno, que venceu o GP da Austrália de 1981, 1983 e 1984 usando motores da Nicholson McLaren, que prontamente se dispôs a ajudar o piloto. Tudo certo agora. Piloto, chassi, motor, mecânico e engenheiro.  A temporada foi muito complicada. Moreno venceu 4 etapas, teve um 4º lugar, e  dois 5º lugares. Nas demais corridas, ele abandonou. Em um campeonato com 12 corridas, esse número é muito alto! Mesmo com todos os contratempos, Moreno venceu o campeonato, e ainda recebeu um convite para ser piloto de testes da Ferrari, que procurava algum piloto experiente para desenvolver o câmbio semi-automático. O contrato era simples. No primeiro ano, piloto de testes. No segundo ano, a Ferrari bancaria a vaga do piloto em alguma equipe e no terceiro ano, Moreno correria pela Scuderia de Maranello.



Tudo ocorria conforme o previsto. Moreno testou exaustivamente durante 1988, foi para a Coloni em 1989, mas 'Il Comendadore' Enzo Ferrari morreu. Então a FIAT assumiu o controle da Ferrari. Cesare Fiorio, que passava a ser o chefão, ignorou a terceira parte do contrato e o sonho do brasileiro pilotar pela Ferrari morreu ali.





Tempos difíceis se iniciaram. Pela Coloni, Moreno pouco pôde fazer. Durante a temporada de 1989, ele se classificou apenas  para 4 GPs, sequer passando da pré-classificação em vários deles. O destque positivo ficou por conta do GP de Portugal, no qual Moreno conseguiu classificar seu carro na 15ª posição. Porém uma batida com Eddie Cheever no warm-up destruiu seu carro e o fez recorrer ao carro reserva, que não tinha as mesmas atualizações. Sua corrida durou até a 11ª volta, quando seu carro parou com problemas elétricos.

Em 1990, a pindaíba só continuava. A EuroBrun não era muito melhor que a Coloni. Tanto que Moreno só consegue se classificar para dois Gps, sendo que, em um deles, sequer larga. A equipe faliu após o GP da Espanha, deixando o brasileiro a pé. Mas eis que o "SuperSub" entra em ação novamente: Moreno estava na Inglaterra tentando conseguir um lugar pra correr no ano seguinte, quando é dada a notícia de que Alessandro Naninni perdeu o braço em um acidente de helicóptero. Imediatamente a Benneton faz o convite ao brasileiro, que prontamente aceita.

O resto é história. Moreno fez os dois últimos GPs da temporada pela Benneton. Conseguiu um pódio no GP do Japão, e um 7º lugar no GP da Austrália. A equipe decide continuar com a dupla brasileira para a temporada de 1991. Até o GP da Bélgica...
 A única cláusula pela qual eles poderiam me tirar de lá [da Benneton] era de que eu não era mentalmente ou fisicamente apto a dirigir. Eu tinha acabado de ser quarto colocado na Bélgica, fazendo a volta mais rápida, e eles vieram com [...] a demissão.
Moreno acaba indo para a Jordan e disputa duas corridas com o carro verde: os GPs da Itália e de Portugal. Na primeira, abandono na 3ª volta. Na segunda, 10º lugar. Para o GP da Austrália, nova dança das cadeiras. Prost, que criticou publicamente a Ferrari, recebeu o bilhete azul. Em seu lugar, entrou Gianni Morbidelli, que deixou uma vaga na Minardi. Quem o substituiu? O "SuperSub", claro! Aquele GP foi caótico. Uma chuva torrencial lavou o circuito. A corrida teve apenas 14 voltas, sendo a mais curta da história da F1. Moreno terminou a corrida na 16ª colocação, a uma volta do vencedor, Ayrton Senna.

Chegando a 1992, Moreno acerta com a Andrea Moda. A equipe era um caos. Digna do título de 'pior equipe da F1'. Tanto que a equipe foi excluída do mundial por 'manchar a imagem da categoria'. Não existem muitos fatos a serem contados. Apenas a honrosa classificação de Moreno para o GP de Mônaco.

[...] Eu tive a oportunidade de classificar o carro em Mônaco e fui aplaudido de pé por todos os engenheiros e chefes de equipes da F-1 quando entrei nos boxes. Aquele momento foi para mim o melhor. Foi um reconhecimento enorme do que eu fiz. O carro superaquecia na quinta volta, só podia fazer quatro voltas para classificar, e mesmo assim consegui, no meio do grid. Nos últimos minutos, a pista estava mais rápida, e eu nos boxes com problema mecânico. Fiquei em último [...].

No restante do ano, nada de mais aconteceu. O carro era uma draga, e sequer passava da pré-classificação. Perry McCarthy, o outro piloto da equipe, não chegou a andar 20m com o carro no GP da Espanha. O motor estourou ainda no pit-lane!

Moreno retornou para os EUA, buscando reconstruir sua carreira. Ficou por lá até meados de 1994, quando surge a oportunidade de pilotar a horrenda Forti-Corse. O carro não passava de um F3000 modificado, e o papel de Moreno era claro. Ser o professor de Pedro Pago Paulo Diniz.
Ao final da temporada, 5 corridas concluídas, e o 14º lugar no GP da Bélgica foi o máximo que ele conseguiu. O GP da Austrália de 1995 foi a última corrida de Moreno na F1.

A partir de 1996, Moreno voltou-se totalmente para os EUA. Sua primeira temporada nesse retorno foi cheia de altos e baixos. O melhor resultado foi o 3º lugar nas 500 milhas dos EUA. Ao total foram 25 pontos e a 21ª colocação na tabela.

1997 foi um ano curioso. Começou o ano na Payton\Coyne, mas participou apenas da primeira corrida, em Miami. Em Surfers Paradise, Christian Fittipaldi bateu violentamente, e quebrou as pernas. Moreno foi convidado para correr em seu lugar. E fez um bom trabalho, diga-se. Christian retornou às competições, mas pouco tempo depois, Mark Blundell se machucou, e Moreno foi substituí-lo. Mesmo sem ter participado de todas as provas, mesmo correndo por três equipes diferentes, o brasileiro fechou o ano com 16 pontos e a 19ª colocação.

Nos dois anos seguintes, Moreno segue na rotina de ser um piloto substituto. Destaque para o segundo lugar obtido em Laguna Seca com a Newman/Haas no ano de 1999. Uma curiosidade: era pra Roberto Moreno ter substituido Greg Moore na última corrida da temporada. Como sabemos, Moore quis correr mesmo com a mão machucada, acabou escapando da pista, e morreu devido à gravidade da batida.

O ano de 2000 foi especial para Roberto Moreno. Desde 1996 o piloto não fazia uma temporada completa pela mesma equipe. E, pela Patrick, seu talento foi comprovado. 6 pódios, entre eles, uma vitória em Cleveland (primeira foto do post). Essa era sua primeira vitória desde a F3000, no longínquo ano de 1988.
[...] Aquela emoção em Cleveland foi de um sucesso atingido. Depois de 12 anos, havia conseguido. Aquilo veio para fora, e foi muito bacana. Mais uma vez, entrei nos boxes e fui aplaudido pelos membros da Cart.
Moreno fechou a temporada no 3º lugar com 147 pontos, e foi uma das gratas surpresas da temporada.

Em 2001, ainda pela Patrick, as coisas não se saíram tão boas quanto no ano anterior. Moreno venceu uma prova (Vancouver), e obteve mais dois pódios, porém o restante da temporada foi muito irregular. 76 pontos e a 13ª colocação.

Em 2003, Moreno chega a anunciar sua aposentadoria, que não chegou a ser concretizada. Ele continuou fazendo corridas esporádicas pela ALMS, Stock Car Brasil, IRL. Até que chegamos às 500 milhas de Indianápolis de 2007. Moreno foi chamado às pressas para substituir Stéphan Gregoire. O carro estava completamente 'zoado' e foi um ato de heroísmo conseguir classificá-lo.



[...] Eu quase bati em todas as curvas em todas as voltas. Eu dava umas atravessadas, o carro ia, e só tentando contornar [...].
Durante a corrida, Moreno vinha fazendo um bom trabalho, até que na volta 36, ao ser ultrapassado, foi para o lado sujo da pista, e acabou beijando o muro.
[...] Não tinha condições de correr com ele [o carro]. Com o acerto de corrida, você andava com o pé no fundo e ia na casa de 216. Se tirasse a asa, andava 220. O pessoal, com asa, andava 221, 222. Não tinha um carro de corrida[...].
Moreno ainda não se aposentou de fato. Ele fez algumas corridas de GTs, e atualmente é um 'driver coach'. Uma espécie de instrutor de pilotagem.

Ele é, sem dúvidas, a prova de que números são apenas números quando falamos de automobilismo. Esta é a singela homenagem do Shakedown Motorsport ao "Operário do Automobilismo", como disse certa vez Téo José. Muito feliz, essa frase.

Feliz aniversário, Roberto "Pupo" Moreno!

Um comentário:

Rianov disse...

Opaa!
Muito bom texto, Bruno.
Ficou de mais e a altura deste grande ídolo nacional.

Feliz aniversário ao Sr. Roberto.

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